terça-feira, maio 18, 2010

Apresentação do Livro Imperfeito na Fnac Leiria


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segunda-feira, maio 10, 2010

Um poeta na sala de aula...

Nascido perto de Coimbra, António Paiva vive na Madeira há cerca de dez anos. Para além de exercer outras actividades, também escreve. Escreve para si, para os outros, para o mundo. E faz do seu gosto pelas palavras um caminho por onde leva tantos jovens a descobrirem os encantos da leitura e da escrita.

A passagem deste autor pela Escola do Estabelecimento Vila Mar provém da sua vontade de colaborar num projecto de incentivo à leitura e à escrita dos mais jovens. A entrevista que se segue regista a curiosidade dos alunos perante «um poeta» de carne e osso e resulta de duas sessões (uma com a turma do 2.º ano do CEF II e outra com a do 1.º ano), em que a conversa andou, inevitavelmente, à volta das palavras e da vida do escritor.

Diogo Fernandes: É muito difícil escrever?
Quando era mais novo, pensava que não, talvez por ingenuidade ou inocência, pois não pretendia expor-me. Agora, como sou publicado e há pessoas que me lêem e compram, tenho mais cuidado. Nos dias de hoje, deito muito mais coisas fora, do que antigamente. Guardo alguns textos, mas sou muito mais rigoroso. Há muita coisa que apago (já não escrevo muito a caneta, habituei-me a escrever directamente no computador).
Quando escrevemos coisas para os outros, temos uma maior preocupação, ficamos a pensar muito tempo naquilo, no que as pessoas vão pensar, se vão gostar. Não quero que fiquem aborrecidas por não gostarem dos meus textos.

Escritor não tem ordenado ao fim do mês…
Ser poeta não é, de facto, uma profissão. Por outro lado, apenas um dos meus livros tem lucro para mim, ou seja, é do único que recebo os direitos de autor. Os restantes têm o objectivo de ajudar instituições, como as Aldeias SOS, a Ajuda de Berço, a Acreditar ou a APPACDM de Setúbal. Nestes casos, os meus livros servem para angariar fundos para diversos estabelecimentos de solidariedade social.

Como funciona?
O processo é assim: escrevemos, enviamos para as editoras e elas fazem uma proposta. Ou se recebe por cada edição (por x número de livros editados) ou consoante o número de livros vendidos.

Quem costuma ler e escrever?
Poucos. Alguns desses lêem o jornal, o que já não é mau. Muitas das dificuldades de compreensão vêm devido à falta de leitura. Quanto mais lemos, mais conhecimentos adquirimos e mais facilidade temos em compreender o que nos rodeia e a interpretar o mundo. Muitas vezes, as pessoas executam mal as suas tarefas, porque não percebem as instruções que lhes são dadas. Não é um problema das classes mais baixas, mesmo quem sai do ensino superior tem este problema. Resumindo, todo o nosso conhecimento vem pela leitura.

Marco Câmara: Os autores é que escolhem a capa?
Esses pormenores gráficos são decididos entre a editora e o autor. Algumas das capas dos meus livros são montagens de fotografias que tirei à natureza. Uma outra foi uma leitora que se ofereceu para fazer. Noutro caso, foi uma artista plástica que fez um quadro, que foi fotografado e transformado em capa, e que, posteriormente, o doou à instituição que o livro pretendia ajudar.

Marco Câmara: Quem decide o preço é quem escreve?
Não, o preço é acordado com as editoras. Porém, cerca de metade vai para as livrarias.

Marco Câmara: Quem decide a quantia que vai para as instituições também é o escritor?
Sim, tal como qual a instituição a ajudar.

Ruben Caetano: Em que ano lançou o seu 1.º livro?
Em 2006.

Leandro Côrte: Há uma hora do dia em que gosta mais de escrever poesia?
Gosto de escrever quando tenho oportunidade, mas preferencialmente à noite, quando estou sozinho, mais calmo. Às vezes, quando vou ao continente visitar uma escola, aproveito as viagens de comboio para escrever. Ando sempre com um bloco, onde vou anotando ideias, pequenas notas daquilo que vejo… Tenho dificuldade em sentar-me com a ideia de escrever. Primeiro, vem a vontade de escrever, a ideia a desenvolver, e depois é que me sento. Ao computador, que agora é muito mais prático, fica logo tudo guardado. Não sei quando ficam os livros prontos. Este, que vai sair em Abril, já está pronto desde 2008. Tenho sempre coisas escritas, prontas a editar quando me der na cabeça.

Alisson Bezerra: O que mais o inspira quando escreve um livro?
Coisas simples. Costumo dizer que escrevo um pouco como se fosse um plágio das vidas das pessoas. Muito do que escrevo, os sentimentos que transmito, por exemplo, não são meus, mas sim daqueles que me rodeiam.
Também costumo dizer «se vais escrever, não te esqueças de ler». Para escrever, temos de ter mais termos de comparação para enriquecer não só o vocabulário, mas igualmente as ideias a transmitir e isso consegue-se através de muita leitura. A verdade é que não usamos um décimo das palavras que existem para comunicar.
Quando era criança, como gostava de ler e tinha poucos livros, lia as folhas dos jornais que cobriam as paredes do fumeiro que havia em casa dos meus pais. Foi um estímulo. Quando fazemos uma coisa por gosto, tudo é mais fácil, mas, por vezes, temos de fazer coisas de que não gostamos, temos de ser obrigados a fazê-las, o que também é bom, porque aprendemos a resolver os nossos problemas e não nos tornamos preguiçosos. Temos de nos obrigar a fazer certas coisas e, quando nos aplicamos e temos sucesso, isso é muito bom, porque temos mesmo de ir em frente e a dureza da vida ajuda-nos, mais tarde, a ultrapassar os obstáculos. Digo tudo isto porque, quando andava na escola primária, tinha de andar cinco quilómetros a pé para lá chegar e, para poder frequentar o 2.º ciclo, tinha de andar vinte e quatro, muitas vezes debaixo de imensa chuva. Muitas vezes, apetecia-me ficar pelo caminho, mas o que sou hoje também vem daquilo que aprendi e fortaleci com esses tempos.

Marco Câmara: Qual foi o livro mais vendido?
Sinceramente, não sei. Sei apenas que, sempre que é preciso, os livros são imprimidos, sejam dez ou cem, o que não é vulgar em muitas editoras.

Leocádia Abreu: Há algum livro seu de que mais goste?
Boa pergunta! Gosto muito de ler e de escrever, mas não consigo reler o que eu próprio criei. Depois de um texto ficar pronto (o que nunca acontece), fico muito tempo sem o ler. Só quando o livro vai ser publicado é que o releio, para fazer as revisões. Quando é editado, faço as apresentações, mas só depois de dois ou três meses é que começo a folheá-lo. Só passado muito tempo, é que pego nele e o leio, visito os textos para ver o que escrevi. Agora, começo a gostar mais deles, porque vou às escolas e os alunos fazem trabalhos com os meus textos. Reconheço que há coisas de qualidade, mas não tenho nenhum favorito.

Marco Câmara: Um dos seus livros tem o nome do autor em minúscula… Não devia ser em maiúscula? É um nome próprio… (risos)
Sim, tens toda a razão: devem seguir-se sempre as normas e as regras. No entanto, há interpretações. É o que acontece com a escrita criativa: enquanto arte de criar, na escrita tudo é possível. Alguns autores têm o gosto de fugir à formalidade, às normas: é a rebeldia, o desafio da pessoa que escreve quando cria uma realidade. As regras do dia-a-dia são tantas, que aproveito a escrita para lhes fugir!

Carolina Andrade (com uma das obras nas mãos): Estes livros são ‘porreirinhos’. Os poemas são pequenos, mas têm significado.
Sim, costumo escrever textos pequenos, para que a atenção das pessoas não se disperse, o que pode acontecer quando os poemas são muito longos.

Para conhecer:

http://dos-meuslivros.blogspot.com/

Títulos já publicados e algumas notas do autor…

Juntando as letras: é o título do primeiro livro, porque é juntando as primeiras letras que se aprende a ler.

Janela do pensamento: é o nome do segundo livro. Depois de aprendermos a ler e a escrever, começamos a saber pensar. Daí que se abram as janelas da mente e do raciocínio.

Navegando nas palavras: terceira obra de poesia. Depois de se aprender a ler, a escrever e a estruturar o pensamento, está-se mais apto a escrever ainda mais.

Pedaços de vida e fantasia: crónicas.

70 poemas para um sorriso: com o lucro da obra, que reverterá também para uma instituição, gerar-se-ão muitos sorrisos.

Próximo livro: Livro Imperfeito, prosa.
O VILÃOZINHO
O Jornal do Estabelecimento Vila Mar
Edição Nº 6
De Janeiro a Março de 2010